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Manejo Integrado

Plantas daninhas na cultura do Trigo

A cultura do Trigo (Triticum aestivum) começou a ser semeada na Mesopotâmia, em torno de 10 mil anos atrás. Ou seja, acompanha a humanidade desde o princípio da atividade agrícola, e é considerado um dos principais alimentos a fazer parte da dieta do homem.

Desde os primeiros relatos do cultivo do Trigo a presença de plantas daninhas tem sido uma constante. basta fazer uma leitura da parábola do Joio e do Trigo: “Quando o trigo brotou e formou espigas, o joio também apareceu”. No caso o Joio era uma alusão a presença de uma espécie infestante junto ao Trigo.

Na atualidade são várias as espécies daninhas que causam perdas econômicas na produtividade de grãos da cultura. No sul do Brasil, as poaceas Azevém (Lolium perenne spp. multiflorum) e Aveia (Avena strigosa e Avena sativa) são as que causam os maiores prejuízos ao Trigo. Quanto às dicotiledôneas, se destacam Buva (Conyza spp), Nabo (Raphanus raphanistrum e R. sativus), Ervilhaca (Vicia vilosa e V. sativa) e Cipó-de- veado-de-inverno (Polygonum convolvulus) e, com menor frequência, Língua-de-vaca (Rumex spp.), Flor-roxa (Echium plantagineum), Erva-salsa (Bowlesia incana), Serralha (Sonchus oleraceus), Alfinete-da-terra (Silene gallica), Gorga (Spergula arvensis) e Erva- de-passarinho (Stellaria media). Nas regiões mais quentes do Brasil e em anos em que o inverno na região sul apresenta temperatura média elevada, ocorrem também as espécies daninhas comuns no verão, como Amargoso (Digitaria insularis); Picão-preto (Bidens pilosa e B. subalternans), entre outras.

As plantas daninhas, espécies vegetais que se desenvolvem onde não são desejadas, representam um dos fatores limitantes ao potencial produtivo da cultura do Trigo. O prejuízo do potencial produtivo decorre do processo de interferência, representado pela competição e alelopatia. A competição ocorre quando água, luz ou nutrientes se tornam limitantes ao pleno crescimento das plantas resultando em prejuízo mútuo e a alelopatia quando há a liberação de compostos químicos no ambiente inibindo o crescimento de uma planta por outra. Esses dois processos ocorrem concomitantemente e seu efeitos deletérios são de difícil separação a campo.

O grau de interferência é o resultado da interação entre a comunidade infestante (composição, distribuição e densidade), a cultura (cultivar e arranjo de plantas), o manejo da cultura e o período de convivência (época de início e duração) (PITELLI, 1985). Quando o manejo adotado proporciona vantagem a cultura e desvantagem a planta daninha consegue-se minimizar o grau de interferência. Por exemplo, emergência de plantas daninhas em baixa população e depois da emergência das plantas de trigo, combinada com rápido crescimento inicial e cobertura precoce do solo do cultivar de trigo, pode resultar em baixo grau de interferência.

A presença de plantas daninhas produz reduções variáveis na produtividade de grãos de trigo. Quando nabo (228 plantas m-2 ) e azevém (24 plantas m-2 ) competem com trigo por 35 dias reduzem a produtividade de grãos em 26% e por todo o ciclo de crescimento 62% (AGOSTINETTO et al., 2008). Trabalhos conduzidos na Universidade de Passo Fundo, com três cultivares de Trigo, indicaram redução média de 82,5% no rendimento do Trigo quando da ausência de controle das plantas daninhas. Nesses dois exemplos, nota-se a influência da população de plantas, do tempo de duração da competição e de características do cultivar na manifestação das perdas de produção da cultura.

A redução mais acentuada na produtividade do Trigo ocorre quando a competição acontece nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura, denominado período crítico de competição. Muitos fatores alteram a duração desse período, entre eles citam-se a espécie, densidade e tamanho da planta daninha, características do cultivo (qualidade das sementes, época, profundidade e densidade de semeadura, adubação, etc...), cultivar (arquitetura de planta, ciclo de crescimento) e momento de início da convivência. O período anterior a interferência, ou seja, período em que a presença de plantas daninhas a partir da emergência do Trigo não causa redução significativa na produtividade é de 12 dias e o período a partir da emergência da cultura que a mesma deve permanecer livre da interferência das plantas daninhas (período crítico de competição) inicia no 12o e termina no 24o dia (AGOSTINETTO et a., 2008). Esse período é variável não podendo ser utilizado como regra. Nesse exemplo nota-se um período anterior a interferência muito pequeno, decorrente principalmente da elevada população de plantas daninhas (aproximadamente 250 plantas m-2 ). De modo geral, o Trigo deve permanecer livre de competição no primeiro terço de seu desenvolvimento, contudo deve-se ficar atento para os fatores que definem esse período para evitar perdas de produção.

Seguem algumas características das principais espécies de plantas daninhas na cultura do Trigo:

AZEVÉM - Lolium perenne spp. multiflorum – Código LOLMU

Espécie gramínea originária do sul da Europa e norte da África. Foi introduzida no sul do Brasil como forrageira, tornando-se planta daninha importante em culturas de inverno, como trigo e cevada, além do milho semeado na primavera.

Planta anual ou bianual, reproduzida por sementes. As plantas de Azevém apresentam desenvolvimento mais vigoroso durante os meses mais frios. Na região sul do Brasil o florescimento se dá geralmente nos meses de setembro e outubro, com maturação no final do ano.

Planta ereta, com elevada capacidade de emitir afilhos. Folhas e colmos possuem elevada cerosidade, o que dá a tonalidade intensa no verde de suas folhas. Possuem aurículas desenvolvidas, abraçando o colmo.

O Azevém é uma espécie de polinização cruzada, auto-incompatível, e com seu pólen disseminado pelo vento. As plantas de Azevém florescem e frutificam e, após a maturação fisiológica ocorre abscisão das sementes, que quando não colhidas caem ao solo, e permanecem dormentes até o final do verão, quando inicia a germinação. O potencial de produção de sementes alcança aproximadamente 3500 sementes por planta. A ressemeadura natural é muito útil para os pecuaristas, porém para os agricultores isso ocasiona dificuldades de controle, devido a ocorrência de plantas em diferentes estádios de desenvolvimento, uma vez que a germinação se dá de forma escalonada.



AVEIA-PRETAAvena strigosa (AVESG)

A Aveia-preta normalmente semeada como cobertura vegetal no período de inverno pode, se não for bem manejada, tornar-se infestante no Trigo semeado no ano seguinte.

Planta anual reproduzida por semente. As sementes tem pronta viabilidade, porém podem permanecer viáveis no solo por até dois anos, dependendo do genótipo. Sua germinação ocorre em maior intensidade no período de inverno.

Planta herbácea, intensamente perfilhada, podendo conter entre 10 a 20 afilhos em condições adequadas. Os colmos são eretos, raramente geniculados.

As folhas possuem bainha inteira, cilíndrica na base onde também pode ocorrer alguma pubescência. Lígula membranácea e aurícula ausente. Lâmina linear, plana, longamente acuminada.

As inflorescências são panículas abertas, com 10-30cm de comprimento. As espiguetas são elíptico-alongadas, com 15-30mm de comprimento, um pouco achatadas, ficando as glumas com ápices afastados na maturação. Lemas e páleas apresentam-se escurecidas, especialmente na parte mediana, o que origina a denominação de “Aveia-preta”.



NABO Raphanus sativus (código RAPSV) / Raphanus raphanistrum (código RAPRA)

O Nabo, Nabiça ou Rabanete é amplamente disseminado nas regiões tradicionalmente produtores de Trigo, sendo considerado de elevada capacidade de competição.

Planta anual reproduzida por sementes. Sua ocorrência é mais comum no período de inverno, quando seu ciclo é mais longo. Plantas que se desenvolvem na primavera ou verão tendem a apresentar ciclo mais curto e menor produção de biomassa.

Planta herbácea, geralmente ereta, de caule muito ramificado, com altura variável, geralmente entre 50 a 80cm. O caule e seus ramos têm seção cilíndrica, podendo chegar a 3cm de espessura na porção inferior, onde pode haver uma certa pilosidade, com pelos estendidos ou recurvados; a parte terminal é lisa e glabra.

Em plantas do gênero Raphanus não ocorre roseta de folhas sobre o solo. A longo do caule e ramos as folhas são muito variáveis em suas formas. As folhas inferiores são lobadas, havendo um lobo terminal maior e vários lobos laterais, As folhas superiores são menos lobadas e menores, curto-pecioladas.

As flores ocorrem na parte terminal das ramificações, sendo o florescimento do tipo indeterminado, ou seja, continuamente surgem novas flores, enquanto as hastes continuam seu crescimento, o que forma uma frutificação racemosa.

Os frutos são siliquas lomentáceas indeiscentes, cilíndrico alongadas. As unidades de dispersão são sementes ou artículos de lomento.

Raphanus raphanistrum (Frutos com notável estrangulamento entre os alojamentos das sementesm e flores geralmente amarelas).

Raphanus sativus (Frutos com estrangulamento irregular, pouco pronunciado entre os alojamentos das sementes e flores lilases, violáceas ou brancas).

Ambas as espécies possuem resistência aos herbicidas inibidores da Acetolactato sintase (ALS).



BUVA Conyza bonariensis (código ERIBO) / Conyza canadensis (código ERICA) / Conyza sumatrensis

A buva está amplamente disseminada na região Sul do Brasil, espalhando-se rapidamente para as demais regiões agrícolas brasileiras.

A separação das espécies no campo é difícil, porém as diferenças existentes na inflorescência auxiliam nessa identificação. Na C. bonariensis os ramos laterais da inflorescência passam do ramo terminal e as inflorescências ficam na ponta dos ramos. Na C. sumatrensis a inflorescência é na forma piramidal, com alta densidade de pelos na haste principal. Na C. canadensis, a inflorescência também é na forma piramidal, mas com baixa densidade ou mesmo sem pelos na haste principal.

Planta anual, reproduzida por semente. Pela enorme quantidade de sementes produzidas (acima de 200 mil/planta) e pela facilidade de dispersão, com os papilhos permitindo sustentação nas correntes do ar, é uma espécie daninha muito agressiva.

Planta herbácea, ereta, cuja altura pode chegar até 2m, dependendo das condições de desenvolvimento. O caule é uma vara ereta, cilíndrica e fácil de ser quebrado. Porém, nesses casos pode ocorrer o rebrote da planta. Sua raiz principal é pivotante, bastante profunda.

Na espécie C. bonariensis, os ramos da parte superior da planta elevam-se e sobrepassam ao topo do caule; folhas em geral de margens inteiras, mas que podem apresentar minúsculos dentes. Na C. canadensis, a parte superior do caule forma uma grande panícula, sem que os ramos excedam ao topo; folhas com margens finamente dentadas.



Referências bibliográficas

AGOSTINETTO, D.; RIGOLI, R.P.; SCHAEDLER, C.E.; TIRONI, S.P.; SANTOS, L.S. Período crítico de competição de plantas daninhas com trigo. Planta Daninha, v.26, n.2, p.271- 278, 2008.

KISSMANN, K.G.; GROTH, D. Plantas infestantes e nocivas. 2 a edição. São Paulo:BASF, 1999. 978 p.

PITELLI, R.A. Interferência das plantas daninhas nas culturas agrícolas. Informe Agropecuário, v.11, n.29, p.16-27, 1985.

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