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Opinião

30/09/2019

Impacto da produção de sementes de plantas daninhas na infestação da lavoura

Eng. –Agr. Dr. Mauro Antônio Rizzardi Professor da Universidade de Passo Fundo, RS

Os prejuízos causados pelas plantas daninhas estão entre aqueles que mais reduzem a produtividade das culturas. Essas perdas são tão intensas que variam de 20 a 80%, dependendo do grau de infestação e das espécies daninhas presentes na área. Neste aspecto, a infestação de plantas daninhas se caracteriza pela diversidade de espécies ocorrentes, onde é muito rara a presença de uma única espécie numa determinada área.

Atualmente, são despendidos esforços na busca de alternativas para o controle dessas espécies, mas acima de tudo é imperioso que se monte estratégias de manejo que, aliadas ao controle, possam atrasar a seleção e proliferação de novas espécies de plantas daninhas ou mesmo o aumento na população das que atualmente ocorrem.

Entre as estratégias para diminuir a infestação dessas espécies encontra-se a redução na sua capacidade de produção de sementes ou mesmo na diminuição da sua disseminação. No geral, as plantas daninhas apresentam prolífica produção de sementes, mas com número médio de propágulos bastante variável de uma espécie para outra, os quais chegam a mais de 200 mil por planta como é o caso de espécies do gênero Conyza spp.

Embora as sementes das plantas daninhas possam disseminar-se nas lavouras de diferentes formas, primariamente elas são introduzidas a partir da dispersão de plantas existentes na própria área. Porém, muito da dispersão é resultado da falta de cuidados do produtor, como: uso de sementes da cultura com presença de impurezas e sementes de plantas daninhas; falta de controle nas áreas que circundam a lavoura ou mesmo falta de limpeza nos equipamentos e máquinas utilizadas nas práticas agrícolas ou na colheita.

Todas estas práticas se não forem bem utilizadas auxiliam na disseminação das sementes das plantas daninhas, contribuindo assim com futuras infestações.
Em muitas situações plantas daninhas não controladas no interior das culturas, ou mesmo aquelas que surgem no intervalo entre duas culturas podem aumentar sensivelmente o número de sementes existentes na área, aumentando assim o potencial de interferência e intensidade das perdas no rendimento das culturas.

A capacidade de multiplicação de sementes de Bidens subalternans (picão-preto) é um exemplo: no caso da permanência na lavoura de soja de 1 planta/ha dessa espécie, haverá produção e disseminação de pelo menos 1.500 sementes de picão na área.

Ainda, considerando que ocorrerá a emergência de cerca de 20% das 1.500 sementes logo após a colheita da soja, estas novas plantas poderão se reproduzir e aumentar ainda mais o reservatório de sementes no solo (20% de 1500 = 300 novas plantas x 800 sementes = 210.000 novas sementes/ha). Ou seja, as plantas daninhas não eliminadas podem produzir grande número de sementes, mesmo sob condições desfavoráveis de ambiente, resultando num banco de sementes potencialmente maior nos anos subsequentes.


Em virtude das consequências da reprodução das plantas daninhas, especialmente no abastecimento do banco de sementes no solo, deve-se, ao se tomar uma decisão sobre a necessidade de controle, incluir na mesma o impacto da produção de sementes nas decisões de longo prazo para manejo de plantas daninhas. Para isso são necessárias informações sobre a capacidade de produção de sementes dessas espécies.

 As variações na produção de sementes pelas plantas daninhas representam estratégias evolutivas que as capacitam a explorar determinada área.  A magnitude da produção de sementes pode influenciar negativamente a adoção do manejo integrado de plantas daninhas com base na abordagem de nível de dano econômico. O efeito que um único ano de reduzido controle de plantas daninhas pode exercer sobre o banco de sementes de plantas daninhas é significativo. Os retornos anuais de sementes ao solo demandarão altos níveis de controle nas culturas estabelecidas sequencialmente na área.

A plasticidade do crescimento dependente da densidade é influenciada pelo espaço disponível ao desenvolvimento da planta e pela habilidade das espécies em ocupar esse espaço e utilizar os recursos do meio. Como estratégia de ocupação do espaço disponível, a planta altera a morfologia do dossel, regulando também o número de estruturas reprodutivas. Pesquisas demonstram que a presença da cultura e a época de emergência da planta daninha afetam o crescimento e a reprodução da planta daninha, fatores que podem causar reduções de até 96% na matéria seca e na produção de sementes.

Nesse contexto, a adoção de estratégias de manejo de plantas daninhas, como arranjo apropriado de plantas da cultura e emprego de cultivares com maior habilidade competitiva influencia negativamente tanto o acúmulo de fitomassa pelas plantas daninhas como a formação de estruturas reprodutivas. Em consequência, essas práticas podem neutralizar os efeitos decorrentes do aumento das reservas de sementes no solo, causado pela sobra de plantas não controladas na lavoura.


Além disso, o emprego de estratégias de manejo das populações residuais de plantas daninhas, após a colheita das culturas é de fundamental importância. Nestes casos, a permanência da área sem uma cobertura vegetal propiciará reinfestação da área trazendo prejuízos no rendimento das culturas sucessoras ou mesmo maior custo financeiro ao produtor no momento do controle.

Neste aspecto, uma abordagem salutar refere-se à instalação de culturas de cobertura no solo ou mesmo da rotação de culturas. A cobertura morta funciona como camada isolante entre a atmosfera e o solo, altera as condições de temperatura e umidade do solo, além de liberar compostos aleloquímicos que inibem a germinação das sementes ou o desenvolvimento das plântulas de determinadas espécies.

No que diz respeito às plantas daninhas, a cobertura morta modifica a constituição qualitativa e quantitativa do complexo florístico que se desenvolve no terreno, por interferir no processo de quebra de dormência das sementes e pela sua ação alelopática sobre a germinação e o desenvolvimento das plântulas.


Já, a prática da rotação de culturas comumente resulta em menores densidades de plantas daninhas emergidas e em menor produção de sementes do que em situação de monoculturas. A redução na população de plantas daninhas em sistemas de rotação de culturas tem por base o uso de uma sequência apropriada de culturas que originam diversidade nas lavouras e, dessa forma, modificam os padrões da relação cultura/plantas daninhas.


Mauro Antônio Rizzardi é Engenheiro Agrônomo pela Universidade de Passo Fundo , mestre e doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é professor titular da Universidade de Passo Fundo. 

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