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Opinião

26/01/2022

Herbicidas pré-emergentes em Milho: algumas considerações

Eng. –Agr. Dr. Mauro Antônio Rizzardi Professor da Universidade de Passo Fundo, RS

As estratégias de controle de plantas daninhas vêm sofrendo uma série de mudanças nos últimos anos. O crescente número de espécies daninhas com resistência aos principais herbicidas utilizados em pós-emergência faz com que, tanto a pesquisa quanto os agricultores, foquem no uso de herbicidas com distintos mecanismos de ação e com modalidades diferentes de aplicação, como o uso de herbicidas em pré- emergência.

Na aplicação em pré-emergência os herbicidas são pulverizados após a semeadura do milho e antes da emergência da cultura e das plantas daninhas. Dentre esses herbicidas destacam-se atrazina; isoxaflutole + tiencarbazona-metilica; piroxasulfona + flumioxazina e s-metolacloro.

Herbicidas do grupo químico das triazinas, como atrazina, são utilizados na cultura do milho sobretudo para o controle de plantas daninhas eudicotiledôneas. São herbicidas que influenciam na fotossíntese, por meio dos quais a atividade do fotossistema II é inibida pelo fato de ocorrer a substituição da ligação da plastoquinona com a quinona b (Q b ). Em plantas sensíveis a esses herbicidas, há a germinação das sementes; porém, quando as plântulas emergem do solo e recebem luz são desencadeadas as reações descritas anteriormente, que levarão à morte da plântula.

Herbicidas como s-metolacloro e piroxasulfona possuem mecanismo de ação associado à inibição dos ácidos graxos de cadeia muito longa. São absorvidos durante o processo germinativo das sementes das plantas daninhas, interferem em diversos processos bioquímicos da plântula e inibem a divisão celular. Controlam grande número de espécies mono e dicotiledôneas.

São herbicidas que apresentam amplo perfil de compatibilidade com herbicidas à base de atrazina e flumioxazina, cuja combinação oferece um tratamento em pré- emergência bastante eficiente para o controle de uma ampla gama de plantas daninhas dicotiledôneas.

O herbicida isoxaflutole atua inibindo a síntese de carotenos. Em presença de umidade no solo, é hidrolisado no principal metabólito diketonitrile (DKN), o qual possui ação herbicida, que impede a biossíntese de pigmentos carotenoides. Mais especificamente, o DKN inibe a enzima 4-HP dioxygenase (hydroxyphenylpyruvate dioxygenase), responsável pela biossíntese da quinona. A quinona é um co-fator-chave para dois processos: a síntese de pigmentos carotenóides e o transporte de elétrons, associado à fotossíntese. A inibição da 4-HP dioxygenase interrompe a biossíntese da quinona, que, por sua vez, inibe a biossíntese de pigmentos carotenóides. Isso resulta na fotooxidação dos pigmentos clorofilados e na morte dos cloroplastos, causando, por consequência, a morte das plantas sensíveis.

O controle das plantas sensíveis poderá ser observado pela não- emergência das plantas daninhas, ou pela emergência de plântulas com sintomas de branqueamento das folhas, com posterior morte das plantas. Os sintomas de branqueamento aparecem, inicialmente, nas bordas e nas pontas das folhas e são mais evidentes em folhas novas. Seu espectro de controle é ampliado quando à tiencarbazona-metilica (inibidor da ALS). Entre as espécies controladas pela associação de isoxaflutole + tiencarbazo-metilica destacam-se: Buva; Capim-amargoso; Capim- carrapicho; Capim-colchão (Milhã); Capim-marmelada (Papuã); Capim-pé-de-galinha; Caruru; Leiteiro; Nabiça; Picão-preto e Trapoeraba.

Os herbicidas aspergidos em pré-emergência na cultura do milho apresentam comportamento diferenciado no solo e nas plantas daninhas, e, em situações de reduzida umidade e alta quantidade de palha, possibilitam o surgimento de plantas daninhas ainda durante o período crítico para prevenção da interferência. Esses herbicidas podem ter eficiência comprometida em razão, também, das variações de textura, das características químicas e dos níveis de cobertura do solo com resíduos vegetais.

No sistema de semeadura direta, ocorre maior acúmulo de palha na superfície do solo, afeta o comportamento de herbicidas aplicados em pré-emergência, os quais são aplicados sobre a palha ficando mais expostos à radiação solar, às altas temperaturas e à adsorção nos resíduos vegetais. Alguns produtos, como atrazina, possuem boas perspectivas de uso em pré-emergência sobre palhadas, uma vez que são facilmente lixiviados para o solo com chuvas que ocorram logo após a aplicação. Outros produtos inibidores de ácidos graxos de cadeia muito longa possuem problemas de retenção na palha, quando utilizados em pré-emergência em plantio direto.

O desempenho de herbicidas aplicados ao solo para o controle de plantas daninhas em milho não é homogêneo em diferentes ambientes, estando alguns herbicidas mais sujeitos que outros a esse efeito do ambiente. As alterações da quantidade de água na interação herbicida-solo-palha nos primeiros dias após a aplicação dos herbicidas s-metolacloro e piroxasulfona podem ser responsáveis pela maior variação dos efeitos destes herbicidas em relação a outros aplicados ao solo, como isoxaflutole.

Mauro Antônio Rizzardi é Engenheiro Agrônomo pela Universidade de Passo Fundo , mestre e doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é professor titular da Universidade de Passo Fundo. 

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