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Opinião

07/04/2020

Controle localizado de plantas daninhas: um sinal de evolução

Eng. –Agr. Dr. Mario Antônio Bianchi

O controle de plantas daninhas evolui constantemente nas técnicas de controle, nos herbicidas e nos equipamentos. Passou da enxada ao herbicida, do pulverizador costal ao autopropelido, do herbicida pré-emergente ao pós-emergente. A substituição do preparo convencional do solo pelo sistema de plantio direto ocasionou uma revolução no campo da conservação do solo e inseriu no contexto do manejo de plantas daninhas a possibilidade de reduzir quantidade e porte de plantas daninhas por meio de culturas de cobertura do solo e de resíduos culturais.

Herbicidas são importantes ferramentas para o controle de plantas daninhas, sendo, em muitos casos, a melhor opção disponível. Na cultura da soja, inicialmente utilizou-se herbicidas pré- emergentes (décadas de 1970, 1980 e 1990) e, posteriormente, os herbicidas pós-emergentes (décadas de 2000 e 2010). Nesse período surgiram novas moléculas herbicidas, formulações inovadoras, novos equipamentos para aplicação, culturas resistentes a herbicidas (ampliando o uso de alguns produtos), mas uma coisa não mudou: manteve-se a técnica de aplicar o herbicida em área total.

Plantas daninhas ocorrem espontaneamente no ambiente agrícola, sem a influência direta do homem no seu estabelecimento. As sementes são disseminadas ao acaso, de acordo com a densidade e distribuição da planta-mãe na lavoura. Vento, animais e maquinário agrícola favorecem a dispersão para locais mais distantes de sua produção, ampliando a disseminação das sementes. A germinação ocorre sob influência da temperatura, umidade, profundidade no solo e da quantidade e tipo de resíduos culturais na superfície do solo, entre outros fatores. Esse conjunto de características confere heterogeneidade no estabelecimento das plantas daninhas nas lavouras e, consequentemente, o controle localizado se constitui numa técnica de grande importância.

Várias pesquisas apontam economia no uso de herbicidas no controle localizado. Nas safras de 1992/93, 1993/94 e 1994/95, pesquisa conduzida pela Fundacep apontou economia de 42% no custo de controle para a aplicação localizada quando comparada a aplicação em área total, sem haver redução da produtividade de grãos de soja. Na safra 2019/20, trabalho conduzido na CCGL com pulverizador dotado de sensor para aplicação localizada, indicou redução no uso de herbicidas quando comparada a aplicação em área total e que a eficiência de controle na aplicação localizada foi dependente da densidade das plantas daninhas.

O controle localizado pode ser realizado em uma única operação ou em duas operações. Numa única operação, a identificação da planta daninha e o controle são feitos numa única ação, como ocorre no controle manual (arranquio, capina manual), no controle químico com uso de pulverizador costal e na aplicação de herbicidas com pulverizadores dotados de sensores (Weed-it, WeedSeeker). Os sensores, conforme o pulverizador se desloca, registram a posição da planta e comandam a abertura e o fechamento da ponta de aplicação (“bico” do pulverizador) de acordo com a localização informada. Mais recentemente, tem recebido atenção, o desenvolvimento de robôs autônomos para realizar a tarefa de identificar (via sensores) e controlar plantas daninhas. Um exemplo é o GBOT, robô autônomo (usa energia solar) que realiza o controle localizado de plantas daninhas sem usar herbicida.

A outra possibilidade é realizar o controle localizado em duas operações. Primeiro é necessário confeccionar um mapa de ocorrência de espécies daninhas e, em um segundo momento, realizar o controle nos locais pré-determinados. Uma limitação deste processo é o intervalo entre a geração dos mapas e a aplicação do herbicida. Este deve ser o menor possível devido a necessidade de conciliar o estágio indicado para controle das plantas daninhas com as condições ambientais adequadas na aplicação. Na confecção de mapas são utilizadas imagens aéreas obtidas por meio de drones, aviões ou satélites. Posteriormente, transferem-se essas informações para pulverizadores que possuem tecnologia que controla a abertura e fechamento de seção da barra ou individualmente as pontas na barra de pulverização, permitindo aplicar nas “manchas” com plantas daninhas previamente delimitadas no mapa.

A viabilidade técnica e econômica do controle localizado é inversamente proporcional a densidade das plantas daninhas. Por isso, o sucesso da adoção dessa técnica está fortemente associado as boas práticas agrícolas, com destaque para aquelas que reduzem a densidade e tamanho das espécies daninhas. Nesse sentido, o plantio direto, com base na rotação de culturas, no solo coberto o ano todo, no alto aporte de material orgânico (“palha”), é o sistema que favorece a adoção do controle localizado. Sistemas que conferem aumento no estoque de carbono do solo são aqueles que propiciam, de uma maneira geral, redução na quantidade de plantas daninhas nas lavouras. A tecnologia disponível atualmente permite que de alguma forma seja executado o controle localizado de plantas daninhas e de nada adiantará ter tecnologia para controle localizado se a distribuição de plantas daninhas for homogênea e em alta densidade na lavoura. Certamente, o uso do controle localizado de plantas daninhas será viável técnica e economicamente para aqueles agricultores que já adotam boas práticas agrícolas.

Nas últimas décadas ocorreram mudanças positivas nas técnicas de controle, nos equipamentos de aplicação/controle, nos herbicidas e nos cultivares. Contudo, não foi alterado o modo como é realizado o controle. É preciso evoluir e migrar do controle em área total para o controle localizado. Adotar e acompanhar a evolução das tecnologias que permitem o controle localizado e, paralelamente, utilizar práticas de manejo para reduzir a densidade e tamanho de plantas daninhas nas lavouras, são ações essenciais para poder usufruir plenamente dos benefícios proporcionados pelo controle localizado de plantas daninhas.

Eng. –Agr. Dr. Mario Antônio Bianchi. Pesquisador da Cooperativa Central Gaúcha Ltda – CCGL, Área de Manejo de Plantas Daninhas, Cruz Alta, RS
 

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