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Pesquisa

Biologia, Ecologia e Fisiologia

Competição: além do que se vê

Eng. Agrônoma, Dra. Ana Paula Rockenbach (Assistente de Pesquisa da Basf) Eng. Agrônomo, Dr. Mauro Antônio Rizzardi (Professor da UPF - Passo Fundo)

A soja é a cultura de maior importância econômica no estado do Rio Grande do Sul. A área semeada e o rendimento de grãos aumentam a cada ano, resultado de grandes investimentos em pesquisa e inovações tecnológicas que possibilitam o cultivo em áreas denominadas anteriormente como impróprias e que aumentam significativamente a produtividade por área. O cultivo, no entanto, está sujeito a inúmeras intempéries climáticas, pragas, doenças e plantas daninhas que prejudicam o rendimento potencial da cultura.

Neste sentido, pode-se afirmar que as plantas daninhas são responsáveis por grande parte das perdas, pois competem por luz, água e nutrientes. Muitas são as plantas daninhas que competem com a soja, dentre as quais, guanxuma (Sida spp.), milhã (Digitaria spp.), papuã (Urochloa plantaginea), picão preto (Bidens pilosa), corda-de-viola (Ipomoea spp.) e leiteiro (Euphorbia heterophylla), acompanhadas de buva (Conyza spp.), capim-amargoso (Digitaria insularis) e milho (Zea mays) que se tornaram atualmente as principais plantas daninhas na soja, oriundas das más práticas de manejo adotadas e da resistência aos herbicidas. Além destas, é possível observar atualmente que o nabo (Raphanus spp.), capim-rabo-de-burro (Andropogon bicornis) e capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) também têm se tornado importantes plantas daninhas nos cultivos de soja.

A maioria dos estudos de competição entre plantas não considera a competição entre raízes. A raiz é o órgão mais importante na absorção de água e nutrientes, e exerce papel primordial na sustentação da parte aérea. A competição entre cultura e plantas daninhas por luz, água e nutrientes, requer raízes eficientes na absorção frente a interferência. Estudos de competição entre plantas raramente determinam as alterações da estrutura e fisiologia das raízes, porém, estas interferem diretamente na aquisição de água e nutrientes, que é um aspecto importante ainda pouco compreendido.

As alterações na raiz têm efeitos importantes na intensidade da competição. Culturas como a soja, possuem a capacidade de detectar a presença de plantas daninhas vizinhas, e rapidamente implantar mudanças morfológicas e moleculares em resposta a competição. A capacidade de detectar mudanças na qualidade de luz e sinalizar esta informação para as raízes, é uma estratégia para garantir a sobrevivência das plantas em condição de competição. As mudanças fisiológicas e morfológicas que ocorrem em resposta a competição, originam plantas mal adaptadas ao ambiente, que consequentemente são mais suscetíveis a estresses bióticos e abióticos e resultam em redução do rendimento potencial das culturas.

Conduziu-se um experimento na Universidade de Passo Fundo, que avaliou a competição de soja com a planta daninha buva em diferentes períodos de convivência. Os períodos de convivência foram do momento da semeadura até os estádios fenológicos V3 e V6 da soja. Estes estádios se caracterizam como, V3: segunda folha trifoliolada completamente desenvolvida, V6: quinta folha trifoliolada completamente desenvolvida. Ao final dos períodos, as plantas de soja foram removidas dos vasos e avaliadas as raízes.

Cada unidade experimental continha seis plantas de soja e uma de buva. Duas raízes frescas foram utilizadas para avaliação morfológica, e foram avaliadas com o uso de um scaner de raízes (Figura 1) para posteriormente análise através do software WinRhizo (Regent Instruments Inc., Sainte-Foy, QC, Canada), onde mensurou-se o comprimento e volume da raiz (Figura 2). As raízes foram secas em estufa e posteriormente pesadas para avaliação de matéria seca.

Figura 1. Scaner de análise das raízes.
 

 
Figura 2. Sistema radicial de plantas de soja analizadas pelo software Whinrizo, semeadura até V3 sem (a) e com (b) plantas daninhas; semeadura até V6 sem (c) e com (d) plantas daninhas.
 
A competição da soja com plantas daninhas do momento da semeadura até os estádios vegetativos V3 e V6 reduziu o comprimento das raízes em 21 e 14%, respectivamente (Figura 3). Isto ocorre por existir a detecção precoce das plantas daninhas pela cultura, o que resulta na redução da taxa inicial de crescimento da raiz. O comprimento de raiz é uma característica morfológica determinante na absorção de água e nutrientes, se este for reduzido pela competição, a função das raízes é comprometida.
 

 
Figura 3. Comprimento de raízes de soja sem e com a presença de planta daninha até os estádios V3 e V6, respectivamente.
Assim como o comprimento, o volume das raízes foi reduzido quando em competição com plantas daninhas, sendo observado uma redução de 10% para ambos períodos de competição, até V3 e V6 (Figura 4).


 
Figura 4. Volume de raízes de soja sem e com a presença de planta daninha até os estádios V3 e V6, respectivamente.
 
A matéria seca de raiz apresentou redução em nível de 50 e 25% quando em competição com planta daninha até os estádios V3 e V6, respectivamente (Figura 5). Este é um reflexo do menor comprimento e do menor volume das raízes, afirmando que as plantas de soja em competição com a buva reduziram o tamanho total das raízes como resultado da competição.

Figura 5. Massa seca de raízes de soja sem e com a presença de planta daninha até os estádios V3 e V6, respectivamente.

A redução da raiz das plantas de soja é prejudicial para a absorção de água e nutrientes, o que reflete no crescimento e desenvolvimento, e consequentemente no rendimento de grãos da cultura. As raízes são muitas vezes deixadas de lado nas avaliações da competição de plantas daninhas com as culturas comerciais, porém, os dados afirmam haver alterações que são significativas e prejudiciais ao desenvolvimento das raízes frente a competição. Assim, além da parte aérea, atenção especial deve ser dada as raízes, pois serão estas as responsáveis pela quantidade de água e nutrientes absorvidos.

Estes resultados reiteram a importância do controle total das plantas daninhas antes da semeadura das culturas, para que não ocorra competição nos estádios inicias das culturas, pois como já sabido, são nesses estádios iniciais que ocorrem os maiores efeitos prejudiciais da competição. Assim, a competição da semeadura da soja até o estádio V6 reduziu o comprimento, volume e matéria seca das raízes de soja quando em competição com buva.

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