(Texto extraído da Apostila “Princípios do Controle de Plantas Daninhas”, organizada pelo Ph.D. Nilson Gilberto Fleck – Faculdade de Agronomia - UFRGS)
Considerando que as espécies incluídas como daninhas são indesejáveis apenas em termos de atitude humana, do ponto de vista botânico elas seguem a mesma classificação das plantas consideradas úteis.
Além da classificação botânica também são classificadas com base em critérios ecológicos. Uma primeira divisão agrupa estas plantas em terrestres e aquáticas, conforme o meio ou habitat em que vivem.
Plantas de hábito terrestre
As espécies ditas terrestres, conforme o local onde ocorrem, podem ser classificadas em:
- agrófilas ou arvenses: são as que ocorrem infestando as áreas agrícolas, especialmente as cultivadas;
- nomofilas: são as que ocorrem em pastagem;
- viárias: são as que ocorrem junto a estradas e caminhos;
- ruderais ou cledófilas: são aquelas que surgem em áreas abandonadas pelo homem.
Em relação à duração do
ciclo de vida, as plantas daninhas (incluindo as aquáticas) são classificadas em:
- monocárpicas ou hapaxantas: incluem aquelas espécies que florescem e frutificam apenas uma vez ao final do ciclo; podem ser anuais, bienais e plurianuais ou efêmeras;
- policárpicas ou polacantas: englobam as espécies perenes que vivem de poucos e muitos anos, florescendo e frutificando anualmente.
Dentre as espécies monocárpicas,
efêmeras são aquelas que apresentam um ciclo biológico muito curto, de algumas semanas apenas, podendo, desta maneira, formar duas ou três gerações numa mesma estação de crescimento. Já as espécies
anuais são aquelas que completam o ciclo em menos de 1 ano; variando, em geral, de alguns meses até as que necessitam 6 a 9 meses para encerrar o ciclo.
As espécies anuais, por sua vez, podem ser divididas em plantas de verão ou de estação quente e em plantas de inverno ou de estação fria, conforme a época do ano em que vegetam. As anuais de verão costumam germinar na primavera, crescer e desenvolver durante o verão, morrendo no outono, persistindo durante o inverno em forma de sementes em dormência no solo ate a primavera seguinte. Por outro lado, as anuais de inverno geralmente germinam no outono, vegetando durante o inverno, sendo que o florescimento e frutificação ocorrem na primavera; durante o verão permanecem como sementes dormentes no solo.
Plantas
bienais são aquelas cujo ciclo é superior a 1 ano e inferior a 2 anos, geralmente completando o ciclo em 18 meses após a germinação. Costumam ser impropriamente designadas como bianuais. Poucas espécies pertencem a este grupo e estas ocorrem normalmente em áreas temperadas. São espécies que necessitam atravessar uma estação fria para que seja induzido o seu florescimento. Em geral se caracterizam por um crescimento vegetativo em forma de roseta na primeira fase do desenvolvimento, emitindo, após o primeiro ano, uma inflorescência disposta no ápice de um longo pedúnculo floral.
Plantas
perenes ou
policárpicas são aquelas cujo ciclo é superior a 2 anos, florescendo e frutificando anualmente por diversos anos, podendo, inclusive algumas espécies viver quase indefinidamente. Elas podem ser denominadas
perenes simples quando se reproduzem naturalmente apenas por sementes; podem, no entanto, originar novos indivíduos quando cortadas em pedaços de forma artificial. São exemplos os gêneros Rumex; Plantago; Taraxacum. Já, as espécies perenes que apresentam tanto reprodução por sementes quanto propagação vegetativa, podem ser subdivididas em rasteiras e em bulbosas. As
rasteiras são aquelas que apresentam estolões (caule que se desenvolve acima da superfície do solo) e rizomas (caules rasteiros subterrâneos), como Cynodon dactylon, por exemplo. As
perenes bulbosas são espécies que apresentam propágulos vegetativos em forma de bulbos, bulbilhos e tubérculos, como ocorre em
Allium vineale e
Cyperus rotundus.
Em relação ao
hábito vegetativo, são divididas em:
- herbáceas: são aquelas de porte baixo, incluindo a maioria das espécies de ciclo anual e bienal e mesmo espécies perenes;
- arbustivas: apresentam porte baixo e ramificação desde a base. Incluem as espécies perenes;
- arbóreas: seu porte é alto e a ramificação ocorre bem acima da base. São plantas perenes;
- trepadeiras: são aquelas que sobem numa planta-suporte, podendo ser herbáceas ou lenhosas;
- hemiepífitas: são aquelas que na primeira fase do ciclo vivem sobre outras plantas, mas que, posteriormente, lançam suas raízes até o solo, tornando-se autônomas (exemplo: figueira estranguladora ou mata-pau);
- epífitas: vivem durante todo o ciclo sobre outras plantas; porém, não são parasitas (exemplos: musgos, liquens, samambaias, bromeliáceas – como orquídeas);
- parasitas: vivem às expensas de outras plantas; podem conter clorofila e realizar fotossíntese como erva-de-passarinho, sendo neste caso denominadas de hemiparasitas, ou não conter clorofila, sendo totalmente parasitas como Cuscuta, então designadas de holoparasitas. Algumas plantas parasitas vivem fixadas sobre os sistemas radiculares das plantas hospedeiras, como ocorre com
Striga e
Orobanche.
Plantas de hábito aquático
Uma das maneiras de classificar estas plantas é a seguinte:
- emersas ou emergentes: são aquelas enraizadas ou ancoradas no solo e adaptadas a crescer com a maioria de seu tecido vegetativo (caule e folhas) acima da superfície da água, não se baixando ou elevando com o nível da água. Exemplos:
Sagittaria;
Cyperus;
Eleocharis;
Polygonum e
Typha.
- flutuantes: são plantas de flutuação livre ou ancorada, adaptadas a crescer com a maioria do seu tecido vegetativo acima ou à superfície da água e baixando ou elevando-se com o nível da água. Exemplos:
Eichornia;
Azolla e
Salvinia.
- submersas: plantas aquáticas que crescem com todo ou com a maioria de seu tecido vegetativo abaixo da superfície da água. Exemplos:
Elodea. Estas plantas podem ser ancoradas ou não.
- marginais: são espécies que vivem enraizadas no solo das margens das massas d’água, com caule geralmente flutuante ou submerso. Exemplos:
Urochloa;
Juncus e
Heteranthera.
Outras classificações
Em relação a
fatores ambientes, as plantas daninhas podem apresentar algumas divisões. Assim, em relação à radiação solar, podem ser
heliófilas (plantas adaptadas à plena radiação) e
ciófilas ou
umbrófilas (quando estão adaptadas à sombra). Com relação à influência da luz sobre a germinação das sementes há plantas fotoblásticas positivas, negativas e neutras.
De acordo com a
reação do solo (ph), existem plantas acidófilas ou calcífugas, quando adaptadas a crescer em solos ácidos, e espécies
basófilas ou
calcífilas, as quais vegetam predominantemente em solos alcalinos ou próximos da neutralidade.
Plantas
halófitas são aquelas adaptadas a crescer em solos salinos, como ocorre com algumas poliganaceas e compostas que podem prosperar em solos contendo de 1,2 a 1,5% de cloreto de sódio.
Com relação à
umidade, as plantas podem estar adaptadas a crescer em solos secos, sendo denominadas de
xerófitas, enquanto outras estão adaptadas a solos úmidos ou encharcados e são designadas de
hidrófitas; já o grupo intermediário compõe a classe das
mesófitas.