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Opinião

06/09/2019

Capim-amargoso: um novo problema nas lavouras do Rio Grande do Sul?

Eng. –Agr. Dr. Mauro Antônio Rizzardi, Professor da Universidade de Passo Fundo, RS

O capim-amargoso (Digitaria insularis (L.) Fedde) é uma espécie gramínea perene , com reprodução por sementes. Entre as características que as diferem de outras espécies do gênero Digitaria destacam-se: capacidade de formar touceiras a partir de pequenos rizomas; florescimento durante praticamente todo o ano e elevada capacidade de produção de sementes, revestidas por pelos que facilitam a sua disseminação.

A sua ocorrência no Brasil, e também no Rio Grande do Sul, sempre foi associada à áreas marginais ou abandonadas, sem o uso intensivo de culturas. Porém, nas últimas décadas, principalmente nas áreas de semeadura direta, com o uso intenso e exclusivo do herbicida glifosato, esta espécie passou a apresentar maior relevância dentro da agricultura brasileira, principalmente no norte do estado do Paraná e em determinados estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste. Em muitos destas regiões há a presença de elevadas populações desta espécie, muitas delas resistentes ao glifosato. Nestas situações, se faz necessário buscar de alternativas químicas e de manejo para o seu controle. 

No Brasil, apesar de sua maior ocorrência estar associada às regiões Sudeste e Centro-Oeste, o fato de ser uma espécie nativa de regiões tropicais e subtropicais da América, pode indicar um potencial de infestação também na região Sul. Nas ultimas safras, esta preocupação aumentou a partir da observação de sua presença em áreas de milho colhidas (“restevas”) ou em áreas de pousio, em lavouras de diferentes regiões do Rio Grande do Sul.

A ampliação deste potencial problema estará diretamente associada com as práticas de manejo utilizadas pelos produtores. Estas práticas incluem evitar a disseminação de sementes; não deixar áreas de pousio; manter coberturas vegetais e arrancar eventuais plantas isoladas na lavoura ou no seu entorno. 

Em relação à disseminação, as plantas daninhas apresentam mecanismos especializados que permitem sua sobrevivência em condições adversas, durante vários anos. Estes mecanismos ajudam as plantas a ocupar os espaços disponíveis no ecossistema. Porém, é o solo que provê o meio físico onde permanecem viáveis os mecanismos de sobrevivência. Eventuais práticas de preparo do solo podem minimizar os efeitos competitivos das infestações sobre uma cultura, mas estas práticas são essencialmente ineficientes em atuar sobre os mecanismos básicos de sobrevivência destas espécies. Assim, como princípio básico, as medidas de controle deveriam ser dirigidas aos mecanismos de sobrevivência das plantas daninhad que se encontram no solo, dificultando ou impedindo a sua emergência.

Se for considerado que amargoso é uma espécie perene, o modelo de exploração agrícola  do sul do Brasil, que inclui trigo/aveia/cevada no inverno, é uma excelente ferramenta para impedir a proliferação desta espécie daninha. Isso explica o por quê de terem sido observadas plantas de amargoso nas “restevas” de milho. Nestas áreas, a colheita do milho realizada em meados do mês de fevereiro ainda possibilitou o estabelecimento destas plantas na área. Nestes casos, deve-se evitar a manutenção de áreas sem a presença de cobertura vegetal por período muito longo, após a colheita do milho, ou mesmo de cultivares precoces de soja.

Outro ponto importante é a sensibilidade diferencial do amargoso em função do seu desenvolvimento. O uso de herbicidas pré-emergentes na soja são alternativas para se evitar o seu estabelecimento. Na pós-emergência, a maior sensibilidade ocorre nas fases iniciais de desenvolvimento, com as plantas com no máximo 3 a 4 perfilhos. Saliente-se que, na fase inicial a planta apresenta crescimento inicial lento. Porém, a partir dos 45 dias após a sua emergência o seu crescimento é acelerado, com aumento significativo da sua biomassa aérea e subterrânea, com a formação dos rizomas. No entanto, o grande desafio é o controle de plantas adultas, onde a sensibilidade aos herbicidas é menor e a produção de biomassa é maior.
 

Mauro Antônio Rizzardi é Engenheiro Agrônomo pela Universidade de Passo Fundo , mestre e doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é professor titular da Universidade de Passo Fundo. 

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