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Opinião

19/04/2021

BUVA: Um inimigo na espreita

Eng. –Agr.; Dr. Mauro Antônio Rizzardi Professor da Universidade de Passo Fundo, RS

A Buva está entre as espécies de maior ocorrência nas lavouras de grãos do Brasil, sendo considerada causadora de significativas reduções na produtividade de culturas de verão, como a Soja. A sua presença também é observada junto às culturas de inverno, como o Trigo, mas sem causar prejuízos importantes no rendimento. Porém, o não controle dentro no inverno impactará negativamente na cultura da soja, semeada na sequência.

A importância das culturas de inverno no manejo da Buva está na interrupção no ciclo de vida das plantas que sobram do cultivo da Soja ou do Milho e, também, na diminuição do fluxo de emergência das sementes de Buva.

As plantas de Buva não controladas nas culturas de verão serão cortadas por ocasião da colheita e poderão rebrotar após esse corte. Nessas situações o manejo químico antes do estabelecimento das culturas de inverno é fundamental para a redução da infestação. Deve-se observar, contudo, que é necessário que as plantas de Buva tenham área foliar suficiente para absorver o herbicida. 

No controle dessas populações rebrotadas dever-se-á utilizar herbicidas de ação total, que possuam mecanismos diferentes daqueles que são utilizados dentro das culturas. Entre os herbicidas disponíveis se encontram os inibidores do fotossistema 1; inibidores da glutamina sintase; inibidores da protox e os mimetizadores de auxinas. Dependendo do tamanho dos rebrotes e das plantas de Buva em muitas vezes é necessária a aplicação sequencial desses mesmos herbicidas.

A importância das culturas de inverno na redução do fluxo de emergência da Buva pode se dar de duas formas: pela cobertura do solo e pelo uso de herbicidas na cultura do Trigo. 

O estabelecimento do Trigo reduz a emergência da Buva pelo seu rápido crescimento e desenvolvimento, o que permite cobertura do solo uniforme do solo. Como se sabe, as sementes de Buva são fotoblásticas positivas e necessitam de luz para iniciar seu processo de germinação. O crescimento da cultura diminui a incidência de luz no solo e reduz o fluxo de emergência de espécies daninhas que necessitam de luz para sua germinação. Da mesma forma, a elevada quantidade de palha que a cultura deixará no solo após a sua colheita continuará a atrasar a emergência de Buva, diminuindo o seu efeito negativo sobre culturas semeadas na sequência, como a Soja.

A manutenção da cultura do Trigo livre da presença de plantas daninhas também passa pelo uso de herbicidas, sejam pré ou pós-emergentes.

Os herbicidas constituem-se no método mais utilizado para o controle de plantas daninhas no Trigo. As estratégias de controle podem ser adotadas mais rapidamente e eficientemente quando se usam herbicidas, comparado ao uso de outros métodos de controle, como o mecânico. A eficiência dos herbicidas tem levado, muitas vezes, a uma grande dependência desses compostos químicos, com a exclusão de outros métodos. O controle químico deve ser visto como uma ferramenta adicional, e não como o único método para diminuir os prejuízos com plantas daninhas. Os herbicidas devem ser utilizados com critérios rígidos, considerando seus custos, eficiência e segurança ao ambiente e ao homem, devendo ser considerados como parte de um programa integrado de controle de plantas daninhas.  


O controle de Buva em pré-emergência é mais restrito pela falta de herbicidas registrados para tal finalidade. Em muitas situações são utilizados herbicidas com ação residual no solo associados aos herbicidas usados na aplicação de manejo pré-semeadura. Na pós-emergência do Trigo os herbicidas recomendados pertencem aos mecanismos mimetizadores de auxinas; inibidores de ALS e inibidores da Protox. 


No caso de se optar pelo uso de herbicidas mimetizadores de auxina deve se atentar para o estádio de desenvolvimento do Trigo, sendo mais tolerante quando as plantas se encontrarem na fase de pleno perfilhamento. As dificuldades de identificação do momento de maior tolerância em aplicações de herbicidas auxinicos têm provocado fitotoxicidade à cultura. Aplicações muito precoces podem causar deformações morfológicas, como espigas defeituosas, folhas enroladas e estatura reduzida das plantas. 

A aplicação precoce de 2,4-D pode reduzir o rendimento de grãos pela interferência nos primórdios de espiguetas, localizadas no ápice de crescimento. Um dos sintomas mais típicos de fitotoxicidade é a retenção das espigas no colmo após a elongação, que permanecem tortas, com o ápice preso ao colmo pelas aristas.  As aplicações tardias, após o início do alongamento, reduzem o rendimento de grãos devido à interferência na esporogênese.


O uso de herbicidas inibidores de ALS é eficiente no controle das populações que sabidamente não sejam resistentes a esses herbicidas. Porém, a que se ressaltar que, ano após ano, vem ocorrendo aumento na quantidade de biótipos resistentes, dificultando assim o uso desses herbicidas. Recentemente o herbicida inibidor da Protox, saflufenacil, foi registrado para o uso na pós-emergência do Trigo, passando a ser opção para o controle de Buva.


É importante salientar que a estratégia de manejo e os herbicidas utilizados na cultura de inverno definirão o sucesso do controle de Buva no verão. Qualquer descuido ou falha do controle no inverno será difícil de ser corrigido antes da semeadura da cultura da soja.
 

Mauro Antônio Rizzardi é Engenheiro Agrônomo pela Universidade de Passo Fundo , mestre e doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é professor titular da Universidade de Passo Fundo. 

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