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Opinião

15/06/2020

Atrasou a semeadura do trigo. E agora?

Eng. –Agr. Dr. Mauro Antônio Rizzardi

As últimas chuvas ocorridas no Sul do Brasil acabaram por coincidir justamente com o período de estabelecimento do Trigo. A maioria dos produtores fez o manejo de dessecação pré-semeadura, porém em virtude das chuvas não conseguiram realizar a semeadura da cultura.

Qual o impacto desse atraso no manejo de plantas daninhas? Faço uma nova dessecação antes da semeadura? Antecipo a aplicação do herbicida na pós-emergência da cultura? Essas são algumas das duvidas que surgem e que devem ser bem analisadas pelo produtor.

O que deve ser olhado para auxiliar na tomada de decisão do controle é se há ou não novo fluxo de emergência de plantas daninhas e de quais espécies. Em havendo plantas emergidas, tanto de Azevém e/ou Nabo, necessariamente se deveria avaliar a possibilidade de se refazer a dessecação antes da semeadura.

No caso do Azevém as alternativas de controle na sua pós-emergência estão restritas a poucos herbicidas, como clodinafope; iodosulfuron; piroxsulam, os quais propiciam controle eficiente quando as plantas de Azevém estão até o início do afilhamento, principalmente o clodinafope. Sendo assim, se as plantas de Azevém emergirem antes da semeadura do Trigo conseguirão se desenvolver mais rápido do que a cultura, com consequente redução no rendimento. Além disso, as plantas estarão fora do estádio ideal para a aplicação dos herbicidas pós-emergentes. 

Uma alternativa seria antecipar  a aplicação do herbicida pós-emergente para os estádios iniciais da cultura, porém esta opção trará como consequência a necessidade de uma segunda aplicação, o que aumentará o custo do controle. 

Por essas razões descritas anteriormente é que a alternativa mais indicada para casos onde ocorram esses fluxos de emergência de Azevém é a realização de uma nova dessecação antes da semeadura. Nesta aplicação as plantas emergidas estarão no início da sua emergência, portanto bem jovens, onde é mais fácil o controle e as doses do herbicida não precisam ser elevadas.

No caso do ressurgimento do Nabo antes da semeadura a decisão a ser tomada deve levar em conta o histórico da sensibilidade das populações desta planta daninha aos herbicidas inibidores da ALS (iodosulfuron; metsulfuron-metil; piroxsulam). Em havendo populações resistentes, as alternativas de controle na pós-emergência se restringem aos herbicidas auxinicos (2,4-D e MCPA). 

No caso do uso dos herbicidas auxinicos o Trigo é mais tolerante quando se encontrar entre o estádio do afilhamento e o início da elongação do colmo. Aplicações muito precoces podem causar deformações morfológicas, como espigas defeituosas, folhas enroladas e estatura reduzida das plantas,  não necessariamente associadas com redução no rendimento de grãos. A aplicação precoce de 2,4-D pode reduzir o rendimento de grãos pela interferência nos primórdios de espiguetas, localizadas no ápice de crescimento. 

Como se pode ver, também no caso do Nabo a alternativa mais adequada seria a sua eliminação antes da semeadura do Trigo. Até por que se a mesma não for realizada ocorrerão perdas devido à fitotoxicidade na cultura se o controle em pós-emergência realizado muito precocemente na cultura, ou por matocompetição se o controle em pós-emergência for realizado mais tardiamente, quando as plantas de nabo estiverem com mais do que 6 folhas.

Para finalizar, sempre é bom reforçar duas premissas básicas:

1) O manejo de plantas daninhas deve ser realizado de forma que a semeadura da cultura ocorra no limpo;
2) As plantas daninhas são mais sensíveis aos herbicidas nos estádios iniciais do seu desenvolvimento. 

 

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