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Pesquisa

Biologia, Ecologia e Fisiologia

A alelopatia e a ciência das plantas daninhas

Bióloga, Dra. Adriana Favaretto Gerente de Pesquisa na Ambev – Passo Fundo, RS

A capacidade de algumas plantas afetarem outras em seu entorno é documentada desde a antiguidade. O primeiro relato desse fenômeno foi atribuído a Teofastro, que observou o efeito de repolho sobre videiras e sugeriu que isso fosse causado por odores liberados pelas plantas de repolho. Esse fenômeno ficou conhecido posteriormente como alelopatia, que do grego significa allelon = mútuo, pathos = sofrer. Especificamente, esse fenômeno é definido como qualquer efeito direto ou indireto, danoso ou benéfico, que uma planta (incluindo microrganismos) exerce sobre outra pela produção de compostos químicos liberados no ambiente.

Os compostos químicos produzidos por plantas alelopáticas são denominados aleloquímicos e, geralmente, são oriundos do metabolismo secundário das plantas. Em sua maioria, pertencem ao grupo dos terpenoides, compostos nitrogenados e compostos fenólicos. Aleloquímicos podem ser produzidos nas folhas, caules, raízes e sementes, com quantidades variáveis de um órgão para outro. As plantas que os produzem são chamadas de “doadoras”, enquanto as plantas para as quais os aleloquímicos são direcionados são chamadas de “alvo” ou “receptoras”. A liberação desses compostos no ambiente pode ocorrer por volatilização, lixiviação, exsudação radicial e decomposição de tecidos. Já, a toxicidade pode variar em função da concentração, idade e estádio fenológico da planta, clima, estação do ano e componentes químicos, físicos e microbiológicos do solo.
 

Figura 1. Sistema de interações alelopáticas entre plantas doadoras e receptoras.

Independente do mecanismo de liberação dos aleloquímicos, as plantas alelopáticas podem agir por duas formas: a) heterotoxicidade: quando os aleloquímicos liberados de uma planta interferem sobre a germinação e o crescimento de outra espécie e; b) autotoxicidade: quando há a produção de aleloquímicos que inibem a germinação e o crescimento de plantas da mesma espécie.

Figura 2. Touceiras de capim-annoni (Eragrostis plana), exemplo de autotoxicidade.

Os efeitos morfológicos causados pelos aleloquímicos nas plantas receptoras são manifestações de efeitos primários causados a nível bioquímico e molecular, estrutural e/ou fisiológico. Assim, aleloquímicos podem afetar hormônios, membranas, absorção de minerais, síntese de pigmentos e fotossíntese, respiração, síntese de proteínas, atividade enzimática, relações hídricas e material genético da planta.

Figura 3. Efeitos morfológicos de aleloquímicos em plântulas de capim-amargoso (Digitaria insularis).

Além dos mecanismos de ação já descritos para aleloquímicos, existem tantos outros ainda desconhecidos. Nesse contexto, destaca-se a possibilidade da utilização da alelopatia no manejo de plantas daninhas, como fonte de novos produtos químicos e/ou mecanismos de ação. A aplicabilidade da alelopatia na ciência dos herbicidas pode ocorrer tanto na forma de compostos isolados quanto como fonte de estruturas-base, a partir das quais modificações sintéticas podem originar novos produtos.

Além de fontes de novas moléculas, plantas alelopáticas podem ser usadas no sistema agrícola como culturas de cobertura e também na rotação de culturas. Nestes casos, exsudados alelopáticos são liberados para suprimir plantas daninhas, patógenos e insetos, tendo como exemplo o centeio (Secale cereale) e sorgo (Sorghum bicolor). A alelopatia pode também ser usada em consorciações, como é o caso de braquiária (Urochloa ruziziensis) nas entrelinhas de pomares de citros. Ainda, pode-se considerar a aplicação da alelopatia no melhoramento genético, melhorando ou suprimindo a expressão de genes alelopáticos, com alguns exemplos no arroz (Oryza sativa).

Assim sendo, destacam-se as inúmeras possibilidades de aplicação da alelopatia, principalmente quando se trata de isolamento e identificação de moléculas como fonte de herbicidas, tornando a alelopatia uma área promissora para o futuro da ciência das plantas daninhas.

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